O dia em que 12 capitais brasileiras viraram palcos
de protestos e mais de 230 mil pessoas foram às ruas pedirem mudanças no país
ganhou destaque em alguns dos principais portais jornalísticos estrangeiros —
El País, The Guardian, BBC e New York Times. Os veículos procuraram falar sobre
as causas dos protestos e apontaram, quase sempre, a insatisfação com problemas
sociais e com o alto custo das obras da Copa das Confederações e da Copa do
Mundo.
Brasilia- Em Brasília,
manifestantes furaram o bloqueio policial e invadiram a área externa do
Congresso, aos gritos de "o Congresso é nosso". Cartazes com os
dizeres "Fora Renan" e "Fora Feliciano" apareceram no ato,
referindo-se ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN), e ao
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o pastor evangélico Marco
Feliciano (PSC-SP).
Rio de Janeiro- No Rio, 100 mil
pessoas se reuniram nas imediações da Assembleia Legislativa, que virou palco
de um violento confronto. Pelo menos cinco PMs e sete manifestantes foram
feridos - 1 deles a tiros -, e 77 PMs ficaram sitiados no Palácio Tiradentes.
Foram registrados confrontos com a polícia em Porto
Alegre, Belo Horizonte, Rio e São Paulo. De maneira geral, os atos violentos
envolveram pequenos grupos e ocorreram no fim dos protestos.
Insatisfeitos. O ponto de ligação entre os
manifestantes nas diferentes cidades continuou sendo o protesto contra as
tarifas dos transportes urbanos. Os repórteres do Estado verificaram, porém,
que aumentou a variedade de grupos de insatisfeitos que aderiram aos protestos,
com novas demandas.
A crítica à violência policial foi uma questão
frequente. Os gastos do governo federal com a Copa do Mundo também estiveram
entre os alvos. A caminhada em Salvador cobrou melhorias nos sistemas de
educação e saúde pública.
Os
participantes receberam demonstrações de simpatia dos moradores das ruas por
onde passavam em diferentes cidades. Em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Faria
Lima, pessoas saíram às janelas dos edifícios comerciais para aplaudir e jogar
papel picado sobre a passeata. Em Belo Horizonte, motoristas improvisaram um
buzinaço de solidariedade.
Bombas de gás lacrimogêneo, comuns nas
manifestações anteriores, também foram recolhidas.
Hora de entender. Políticos de diferentes
tendências se manifestaram sobre os protestos, defendendo o direito dos
manifestantes. A presidente Dilma Rousseff disse que as manifestações são
"legítimas e próprias da democracia".
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
criticou os dirigentes públicos que qualificam os manifestantes como
baderneiros. "Os governantes e as lideranças do País precisam atuar
entendendo o porquê desses acontecimentos", disse. O ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que manifestações sociais não devem ser
encaradas como "coisa de polícia". ARTUR RODRIGUES, BRUNO PAES MANSO,
BRUNO RIBEIRO, BRUNO DEIRO, DIEGO ZANCHETTA, GIOVANA GIRARDI, LUCIANO BOTTINI
FILHO, OCIMARA BALMANT e TIAGO DANTAS.
Fonte: O Estadão